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O naufrágio Bateau Mouche – Entrevista com o último passageiro com vida a ser resgatado naquela noite

Decorridos 30 anos do naufrágio do Bateau Mouche, a SOBRASA decidiu revisitar o terrível episódio, por sua natureza emblemática em relação às trágicas mortes por afogamento, causadas, sobretudo, pela ausência de importantes procedimentos de navegação segura, principalmente, em passeios turísticos marítimos. A SOBRASA convidou o engenheiro e economista Helio Meirelles Cardoso para apresentar o seu relato inédito, na condição de sobrevivente do naufrágio. Sobrevivente do naufrágio mais impactante do Brasil – Bateau Mouche – que ocorreu na noite de 31 de dezembro de 1988, mais precisamente na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, quando estava a caminho de Copacabana para ver os fogos de final de ano. Hélio Meirelles, Engenheiro e Economista, contará em vários episódios toda tragédia que viveu e como ajudou diversas pessoas a se salvar. Das 142 pessoas a bordo, 55 morreram.

ENTREVISTA
No último dia 31 de dezembro, o naufrágio do Bateau Mouche nas águas da Baia da de Guanabara completou 30 anos.
Com mais de 140 pessoas a bordo, o acidente causou a morte de 55 passageiros e tripulantes.
Naquela noite foram reunidos os mais graves erros de um passeio turístico marítimo, situação que se enquadra no rol de preocupações da SOBRASA com a população brasileira.
Nesta oportunidade, a SOBRASA convidou o engenheiro químico e economista, Helio Meirelles Cardoso, 67 anos, um dos sobreviventes, para uma entrevista sobre o desastre e realizar um relato minucioso sobre o ocorrido.
Na entrevista a seguir, com o Diretor Médico-Científico David Szpilman, o engenheiro Helio Meirelles apresenta as principais considerações a respeito do seu relato que será publicado.
David Szpilman (DS) – Como o senhor acolheu o convite da SOBRASA para apresentar o seu relato sobre o naufrágio do Bateau Mouche?
Hélio Meireles (HM) – Recebi com muita satisfação, pois terei a oportunidade de trazer a público diversos detalhes do terrível acidente que ainda não são do conhecimento da população.
DS – O senhor não corre o risco de ser acusado de não ter contribuído nas investigações por estar se manifestando somente agora?
HM – Não corro esse risco porque me apresentei como testemunha no processo criminal que foi instaurado à época. Na ocasião, meu depoimento foi rico em informações para que fosse elaborado na Justiça um parecer cristalino, apontando os verdadeiros culpados pelo desastre. Mas, não me detive nas minhas experiências pessoais no naufrágio, pois, o objetivo da ação judicial certamente não era este.
DS – Como será apresentado o seu relato no site da SOBRASA?
HM – O formato escolhido consiste na publicação em capítulos, preferencialmente curtos. Estamos pensando em um intervalo máximo de 15 dias entre a publicação de cada capítulo. A produção dos primeiros capítulos está em ritmo acelerado.
DS – O que o público pode esperar em termos de conteúdo do seu relato?
HM – O meu relato tem uma dose de emoção muito forte. Eu estava com uma namorada que havia conhecido poucas semanas antes, e o meu principal objetivo na penumbra era encontrá-la com vida para poder efetuar o resgate. No tempo todo de procura, muitas situações inesperadas e surpreendentes aconteceram comigo.
DS – Pelo seu comentário, o senhor passou muito tempo no mar? É isso mesmo?
HM – Sim. Eu tinha um pleno discernimento do que estava acontecendo a cada momento na área do naufrágio. E esgotadas todas as alternativas de contato, sem encontrar a minha namorada, posso garantir que fui o último sobrevivente a sair da água.
DS – Depois de tanto tempo, o seu relato pode conflitar com os de outros sobreviventes?
HM – A situação do naufrágio era muito peculiar: cada pessoa vivendo momentos de elevadíssimo estresse, com risco de morte iminente, tendo o mar como ambiente ameaçador, para o qual não estava preparada para estar e, ainda, com o agravante da penumbra duradoura. Neste contexto, os relatos podem conter diferenças. Devem ser encaradas como aceitáveis.
DS – Existe algum projeto mais ambicioso após a publicação do seu relato em capítulos no site da SOBRASA?
HM – A reunião de muitas situações no meu relato sobre o naufrágio pode despertar o interesse no sentido de se elaborar outra mídia, como um livro, por exemplo. Vale lembrar que o naufrágio do Bateau Mouche gerou artigos, reportagens, livro e documentários ao longo desses 30 anos. Espero que a fidelidade dos fatos que relatarei possa ter alguma utilidade para divulgar ainda mais os erros imperdoáveis produzidos pela ganância de poucos, além de o descaso com o ser humano que ocasionou a morte de tantos inocentes e o trauma psicológico perene em muitos que sobreviveram.

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Dr David Szpilman

Dr David Szpilman - Sócio Fundador, Ex-Presidente, Ex-Diretor Médico e atual Secretário-Geral da SOBRASA; Ten Cel Médico RR do CBMERJ; Médico do Município do Rio de Janeiro; Membro do Conselho Médico e Prevenção da International Lifesaving Federation - ILS; Membro da Câmara Técnica de Medicina Desportiva do CREMERJ. www.szpilman.com