Espasmo de glote no afogamento – realidade ou mito?

É muito comum no afogamento, ouvirmos falar em espasmo de glote, mas quanto desta ocorrência é real?

Para entendermos este conceito adequadamente é importante conhecermos um pouco de fisiopatologia, ou seja, quais os processos fisiológicos ao ocorrer à patologia afogamento.

No processo de afogamento, quando não há alternativa para manter as vias aéreas fora da água, a apnéia voluntária é a primeira resposta enquanto a consciência ainda está preservada. A água na boca é ativamente cuspida ou engolida. A primeira aspiração involuntária de água, quando ocorre, provoca tosse freqüentemente (> 98%) ou laringoespasmo (espasmo de glote) raramente (<2%), levando a hipóxia. A alteração fisiopatológica mais importante no afogamento é a hipoxemia (baixa de oxigênio no sangue). No caso de ocorrer o espasmo de glote, a hipoxemia gerada provocará seu relaxamento em alguns segundos ou minutos. Então, mais água será rapidamente aspirada para os pulmões, tornando difícil ou ineficaz a obtenção de oxigênio, instituindo-se torpor ou perda de consciência, com evolução rápida para a apnéia involuntária e, finalmente, a parada cardíaca por assistolia.

O mito do espasmo de glote foi criado a partir dos anos 40 quando quase 20% dos casos de pessoas encontradas mortas na água não tinham água em seus pulmões. O que acontece de fato e hoje sabemos bem, é que estas pessoas em quase sua totalidade morrem de outras causas (IAM, AVC, arritmias cardíacas, e outros) dentro da água e não afogadas. Outra evidencia que nos levou a esta hipótese não verdadeira é o fato incontestável de uma grande maioria de afogados relatarem uma grande dificuldade em respirar após a aspiração de água, como “se algo tivesse travado a respiração”. O fato de não termos encontrado evidencia de água nos pulmões naquela época nos fez ir para esta hipótese de espasmo de glote.

Em todos os casos de afogamento existe aspiração de água. Não existe, portanto afogamento sem a entrada de água em vias aéreas. Esta aspiração de água pode variar de pequena a grande, variando então o grau de afogamento encontrado. Se não houve aspiração de água é somente um caso de resgate aquático. A sensação de “espasmo de glote” como se algo tivesse fechado nas vias aéreas relatado por pessoas que se afogaram, são causadas pela coluna de água que funciona como uma obstrução, e que se desfaz pelo esforço inspiratório indo ao pulmão ou sendo expelido pela tosse.

Para mais informações sobre o assunto procure em biblioteca em
Dr David Szpilman <david@szpilman.com>

Referencias bibliográficas
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Dr David Szpilman

Dr David Szpilman - Sócio Fundador, Ex-Presidente, Ex-Diretor Médico e atual Secretário-Geral da SOBRASA; Ten Cel Médico RR do CBMERJ; Médico do Município do Rio de Janeiro; Membro do Conselho Médico e Prevenção da International Lifesaving Federation - ILS; Membro da Câmara Técnica de Medicina Desportiva do CREMERJ. www.szpilman.com