Caso a prevenção falhe…
Siga os passos abaixo:
1º – Reconheça que uma pessoa esta se afogando e precisa de ajuda
• Banhista não se desloca, tem uma forma errática de flutuar ou nadar e se mantém na posição vertical.
• Ao contrário do que a maioria pensa, pessoas se afogando não acenam ou gritam por socorro, e parecem muitas vezes que estão apenas brincando na água.
2º – Assim que você reconheceu um afogado peça a alguém que chame por socorro ligando 193
• Só depois de chamar por Socorro você deverá tentar ajudar sem se arriscar.
3º – Forneça qualquer material flutuante interrompendo o processo de afogamento
• Até 4m do afogado – Utilize varas, galhos ou cordas. Em piscinas, por exemplo, sempre existem as varas de alumino de peneiras e aspirações que podem ser usadas para ajudar as pessoas.
• Distancias maiores de 4m – atire uma bóia, garrafa PET, pranchas, bola, tampas de isopor ou outro material que flutue.
4º – Remova o afogado da água somente se for seguro a você
• Tente sempre ajudar mantendo-se fora da água. Assim você não se torna um segundo afogado
• Entre na água somente se tiver absoluta segurança de não correr risco de ser um segundo afogado.
• Se você decidiu entrar na água para socorrer
- Leve consigo sempre que possível algum material de flutuação.
- Retire roupas e sapatos que possam pesar na água e dificultar seu deslocamento. É válida a tentativa de se fazer das calças um flutuador, porém isto costuma não funcionar se for sua primeira vez.
- Entre na água sempre mantendo a visão na vítima.
- Pare a 2 m antes do afogado e lhe entregue o material de flutuação. Sempre mantenha o material de flutuação entre você e ele.
- Nunca permita que o afogado chegue muito perto, de forma que possa lhe agarrar. Entretanto, caso isto ocorra, afunde que ele lhe soltará.
- Deixe que o afogado se acalme, antes de chegar muito perto.
- Se você não estiver confiante em sua natação, peça ao afogado que flutue e você então acena pedindo ajuda. Não tente rebocá-lo até a borda da piscina, pois isto poderá gastar suas últimas energias.
- Durante o socorro, mantenha-se calmo, e acima de tudo não se exponha a riscos desnecessários.
Caso a pessoa a ser socorrida esteja presa ao sistema de aspiração. A única forma de solta-la e realizar a sua retirada de dentro da água para proceder os primeiros socorros é desligando a energia da bomba. Ainda assim por vezes o vácuo mantém a pessoa presa ao local, necessitando abrir o Skimmer ou o bocal de aspiração lateral da piscina para e as torneiras correspondentes para então interromper o vácuo criado.
• Se você for o afogado, não entre em pânico, apenas tente flutuar e acene por socorro IMEDIATAMENTE.
5º – Forneça os primeiros socorros na borda da piscina
5.1 – Ao chegar à borda da piscina coloque o afogado com a cabeça e o tronco na mesma linha horizontal. A água que foi aspirada durante o afogamento não deve ser retirada, pois esta tentativa prejudica e retarda o início da ventilação e oxigenação do paciente, alem de facilitar a ocorrência de vômitos.
• Cheque a resposta da vítima perguntando, “Você está me ouvindo?”
5.2 – Se houver resposta (fala, movimenta ou qualquer outra resposta) do afogado ele está vivo (respiração e coração batendo). Coloque em posição lateral de segurança e aguarde o socorro chegar.
Se não houver resposta do afogado ele esta inconsciente, e isto implica em 2 possibilidades principais: Ele esta vivo mas não responde OU ele esta em parada da respiração e do coração (parada cárdio-respiratória(PCR))
SE AINDA NÃO FOI CHAMADO O 193 ou 192, ESTA É UMA HORA INDICADA
5.3 – Abra as vias aéreas, colocando dois dedos da mão direita no queixo e a mão esquerda na testa, e estenda o pescoço (figura);
5.4 – Cheque se existe respiração – ver, ouvir e sentir – ouça e sinta a respiração e veja se o tórax se movimenta (figura) – Se houver respiração coloque em posição lateral de segurança e aguarde o socorro da ambulância chegar.
5.5 – Se NÃO houver respiração – inicie a ventilação boca-a-boca – Obstrua o nariz utilizando uma das mãos na testa e com os dois dedos da outra mão abra a boca e realize 5 ventilações boca-a-boca iniciais observando um intervalo entre cada uma que possibilite a elevação do tórax, e logo em seguida o seu esvaziamento.
É recomendável a utilização de barreira de proteção (máscara), mas a sua ausência não é impedimento, pois o risco, quando não há sangue na boca, para o socorrista é desprezível, e
5.6 – Se NÃO houver resposta do afogado (movimentos ou reação à ventilação) assuma que o coração esta parado, retire os dois dedos do queixo e passe-os pelo abdômen localizando o encontro das duas últimas costelas, marque dois dedos, retire a mão da testa e coloque-a no tórax e a outra mão por sobre a primeira e inicie 30 compressões cardíaca externa.
• A velocidade destas compressões deve ser de 100 vezes em 60 segundos. Em crianças de 1 a 9 anos utilize apenas uma mão para as compressões. Mantenha alternando 2 ventilações e 30 compressões e não pare até que:
a – Haja resposta e retorne a respiração e os batimentos cardíacos. Coloque então a vítima de lado e aguarde o socorro médico solicitado;
b – Você entregue o afogado a uma equipe médica; ou
c – Você fique exausto.
- Após os primeiros 4 ciclos completos de compressão e ventilação, reavalie a ventilação e os sinais de circulação. Se ausente, prossiga a RCP e interrompa-a para nova reavaliação a cada 2 minutos ou 4 ciclos.
- Assim, durante a RCP, fique atento e verifique periodicamente se o afogado está ou não respondendo, o que será importante na decisão de parar ou prosseguir nas manobras. Existem casos descritos de sucesso na reanimação de afogados após 2 horas de manobras e casos de recuperação sem danos ao cérebro até 1 hora de submersão.
- Sempre inicie todo processo com apenas um socorrista, para então após 2 a 3 ciclos completos de RCP, iniciar a alternância com dois socorristas.
- Os socorristas devem se colocar lateralmente ao afogado e em lados opostos. Em caso de cansaço realize a troca rápida de função com o outro.
- Aquele responsável pela ventilação deve manter as vias aéreas desobstruídas.
- A RCP deve ser realizada de preferência no local do afogamento, pois é aonde a vítima terá a maior chance de sucesso. Nos casos do retorno da função cardíaca e respiratória acompanhe a vítima com muita atenção, durante os primeiros 30 minutos, até a chegada da equipe médica, pois ainda não esta fora de risco de uma nova parada cárdio-respiratória.
- Nos casos onde não houver efetividade da manobra de ventilação boca-a-boca, refaça a hiperextensão do pescoço e tente novamente.
- As próteses dentárias só devem ser retiradas caso estejam dificultando a ventilação boca-a-boca.
- O ar atmosférico é uma mistura gasosa que apresenta cerca de 21% de O2 em sua composição. Em cada movimento respiratório gastamos cerca de 4% desse total, restando 17% de O2 no ar expirado pelo socorrista. Esta quantidade de O2 é suficiente para a ventilação boca-a-boca ser considerado o mais eficiente método em ventilação artificial de emergência.
QUANDO VALE A PENA TENTAR A RCP EM AFOGAMENTO ?
O tempo é fator fundamental para um bom resultado na RCP, e os casos de afogamento apresentam uma grande tolerância à falta de oxigênio, o que nos estimula a tentar a RCP além do limite estabelecido para outras patologias. Inicie a RCP em:
1. Todos os afogados em PCR com um tempo de submersão inferior a uma hora – Três fatos juntos ou isolados explicam o maior sucesso na RCP de afogados – o “Reflexo de mergulho”, a continuação da troca gasosa de O2 – CO2 após a submersão, e a hipotermia. O Centro de Recuperação de Afogados (CRA) tem registrado 13 casos de PCR com submersão maior do que 7 minutos, sendo 8 com mais de 14 minutos ressuscitados com sucesso(2003).
2. Todos os casos de PCR que não apresentem um ou mais dos sinais abaixo;
• Rigidez cadavérica
• Decomposição corporal
• Presença de livores
A AMBULÂNCIA E O HOSPITAL – Todo e qualquer atendimento pela ambulância e em seqüência o
hospital só será possível se o socorrista realizar o primeiro atendimento. Portanto você é a parte
mais importante de todo atendimento na sobrevivência do afogado.
COMPLICAÇÕES NO ATENDIMENTO AO AFOGADO
O vômito é o fator de maior complicação nos casos de afogamento onde existe inconsciência. A sua ocorrência deve ser evitada utilizando-se as manobras corretas:
• Posicione o afogado na borda da piscina com a cabeça ao mesmo nível que o tronco – Evite colocá-lo inclinado de cabeça para baixo.
• Desobstrua as vias aéreas antes de ventilar – Evite exagero nas insuflações boca-a-boca, evitando distensão do estômago.
• Em caso de vômitos, vire a face da vítima lateralmente, e rapidamente limpe a boca.
• Lembre-se que, o vômito é o pior inimigo do socorrista.
CONDUTA APÓS O RESGATE AQUÁTICO
O socorrista pode enfrentar a dúvida de quando chamar o socorro médico e quando encaminhar a vítima ao hospital após o resgate. Em casos graves a indicação da necessidade da ambulância e/ou do hospital é óbvia, porém casos menos graves sempre ocasionam dúvidas. Após o resgate e o atendimento inicial temos resumidamente 3 possibilidades:
1. Liberar o afogado sem maiores recomendações.
a) Afogado sem sintomas, doenças ou traumas associados – sem tosse, com a freqüência do coração e da respiração normal, sem frio e totalmente acordado, alerta e capaz de andar sem ajuda.
2. Liberar a vítima com recomendações de ser acompanhada por médico.
a) Afogado com qualquer queixa pequena que não o impeça de falar e andar.
3. Acionar o Sistema de Emergências Médicas (SEM) – Ambulância (193) ou levar diretamente ao hospital em caso de ausência do SEM (ambulância).
a) Qualquer outro afogado que não se encaixe nas situações dos itens 1 ou 2.
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