Corais – Prazeres e Desprazeres

Todos nós sonhamos com o “perfect surf spot” onde o dia perfeito de surf é a regra e não a exceção, onde os 3 principais fatores, o “swell”, o vento e o fundo estão perfeitos. Locais como este necessitam ter poucas variáveis climáticas e geográficas.

O “swell” é previsível, mas totalmente fora de nossa vontade. Os ventos variam muito de dia, mas nestes locais perfeitos tem uma constante da terra para o mar. E o fundo é de coral e sempre está do jeito que deveria ser.

No entanto, quando a ondulação entra na barreia de coral e arrebenta rapidamente formando o tubo perfeito, a profundidade no local é geralmente menor do que o tamanho da onda, possibilitando lesões diversas. Algumas podem ser graves como ficar preso pela correnteza no local ou sofrer um trauma craniano e perder a consciência. Quando isto acontece, se não houver ajuda rápida no local significa a morte. Temos alguns exemplos de grandes surfistas que morreram ou passaram perto da morte em recifes de corais. Usar capacete nestas situações é uma ótima forma de prevenção.

O coral é um conjunto de pólipos em forma de anêmona com tentáculos curtos. Os acidentes mais leves com os corais resultam de contatos bruscos com a região calcificada, provocando escoriações ou lesões localizadas que, embora superficiais na maioria das vezes, podem ser urticantes, dolorosas, de lenta cicatrização e potencialmente infectadas. A gravidade das lesões na pele advém da combinação de alguns fatores possíveis.
A abrasão ou laceração mecânica da pele provocada pela estrutura cortante do exoesqueleto, com alguma hemorragia, a penetração de material estranho na ferida, normalmente fragmentos calcários, o contato com a parte viva do coral (tentáculos com nematocistos) e a possibilidade de reação alérgica e infecção secundária. Com exceção das grandes lacerações e/ou hemorragias advindas de acidentes com estes seres, a maioria das pequenas lacerações não são notadas por horas ou são intencionalmente negligenciadas, devido à sua banal aparência inicial e falta de sintomas significativos. Este é um erro que pode resultar em complicações futuras. Quando não tratada de forma adequada, a lesão costuma apresentar, horas depois, coceira, bolhas com ou sem pus, edema e dor crescente.
A infecção secundária no local pode iniciar 6 a 8 h após, com o crescimento de nódulos linfáticos (íngua) próximos, podendo causar dor local, dor de cabeça e febre. Além do coral existem também os falsos corais urticante (hidrocorais) encontrados nos recifes tropicais que possuem nematocistos capazes de infligir lesões bastante dolorosas.

O tratamento das escoriações pelos corais vivos consiste em :
· Banhar vigorosamente a região dentro das primeiras 3 a 4 h, com água salgada ou doce, para remover todo o material estranho aderido na lesão.
· Lave bem a ferida com água doce e sabão neutro (sabão de coco). Pode-se usar uma escova de dente macia.
· Havendo algum corte mais profundo, será necessário à retirada do material estranho visível. Nesses casos, não se deve suturar a ferida, pois ela costuma infeccionar.
· Após a limpeza, aplique uma pomada antisséptica (com neomicina ou bacitracina) e cubra a ferida com um curativo tipo gaze. Faça a limpeza com água e sabão e troque o curativo diariamente.
· A vacinação antitetânica profilática é indicada e muito importante.
· Mesmo com uma boa limpeza da região, a ferida costuma apresentar cicatrização lenta com moderada a severa inflamação e ulceração.
· Todo o tecido superficial morto deve ser retirado cirurgicamente com pinça ou tesoura regularmente até que se tenha a formação de um tecido granulado e sadio na cor vermelha.
· Havendo infecção consulte sempre um médico para orientação.
Mesmo existindo o risco, um dia de surf perfeito no coral vale a pena. Lembre-se de usar capacete e que a roupa de lycra ou o neoprene podem lhe proteger destas lesões na pele. Bom surf!

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Martin Leray