Curitiba, 17 de abril de 2008
Foi no dia 25 de dezembro de 2006, natal, dia comemorativo, um dia sagrado.
Era a segunda temporada como guarda vidas, já faziam 13 dias que estava trabalhando na areia. O meu posto chamado de Av. Curitiba (Matinhos – Pr) era e ainda é um dos postos que há mais salvamentos.
Naquele dia estava no período da manhã trabalhando, eu e mais o meu companheiro, o posto estava cheio, não paramos nem um minuto, colocamos placas, apitamos e orientamos banhistas, nosso lema era primeiro orientar antes de fazer o salvamento, pois ninguém sabe quais são as condições da pessoa dentro da água. Ela pode agüentar 5 á 10 minutos flutuando, como pode afundar em questão de 2 minutos. Por isso sempre tivemos em mente a prevenção em primeiro lugar.
As 11:40 hr estava no entreposto orientando duas banhistas, quando olhei para o entreposto do outro lado onde haviam duas placas, observei um garoto que se aproximava para entrar na água, logo fui andando em direção à ele, estava a uns 300 metros ,apurei os passos, passei pelo meu companheiro que estava orientando outro banhista, percebi que o garoto entrou, e de repente a corrente de retorno o levou, parecia um rio de tão forte, comecei assim a correr o mais veloz que pude , apitei para o meu companheiro e entrei na água, comecei a nadar o mais rápido, quando escutei gritos e olhei para trás, um senhor se afogando, quando vi na areia meu companheiro entrando na água, deixei-o, e fui em direção do rapaz que nem sinal de socorro pedia.
Faltando uns metros para pegá-lo observei que estava afundando, somente seu tórax e sua cabeça estavam aparecendo, mergulhei e não o encontrei, porém vi apenas seu braço na água o corpo já estava submerso assim puxei-o para cima. O garoto estava inconsciente, cianótico, com os olhos abertos, parecia que seus olhos tinham “virado” pois estava com o globo ocular todo branco, sua íris não aparecia, coloquei seus braços por cima de meus ombros tentei abrir sua boca não conseguia, pois estava com trisma, observei que o garoto não respirava, tentei abrir sua boca mais uma vez, e graças ao bom Deus consegui, fiz então uma insuflação em sua boca mesmo estando no mar, quando terminei o garoto começou vomitar, vomitou por cima dos meus ombros, e rosto, naquele momento não senti nojo nenhum, e sim uma alegria, pois o garoto voltou a respirar. O meu companheiro gritou e acenei dizendo que iria conduzir a vítima até a praia, pois ele estava quase chegando até aquele senhor que pedia por socorro.
Olhei para a areia e percebi que estava uns 250 metros da arrebentação, sabia que não poderia demorar muito pois a qualquer momento o garoto poderia entrar em parada.
Quando estava levando-o para a areia, um pescador veio nadando em nossa direção para ajudar, pedi para que pegasse nas pernas, e eu peguei embaixo dos braços levamos até areia seca. Coloquei em decúbito lateral, o garoto não parava de vomitar, assim comecei a perguntar seu nome e por um milagre ele abre os olhos e me diz “Alisson”.
A equipe da ambulância chega e o conduz até o interior do mesma onde a médica faz os procedimentos médicos.
Fiquei na praia arrumando meu Skibelt e minha nadadeira ,até que quando observei, havia muitas pessoas me olhando e assim começaram a bater palmas, muitas mulheres vieram e me abraçaram, algumas pedindo até desculpas pois não acreditavam que eu, como mulher, conseguisse fazer um salvamento daquele jeito. Foi algo que até hoje agradeço a Deus, pois ele sim, me deu visão para ver o garoto entrando, sabedoria para saber entrar no mar, o local exato para não perder a vítima, e rapidez para conseguir chegar até o rapaz.
No dia seguinte, chegando no posto de guarda vida uma mulher corre em minha direção e me abraça , seu choro é como se fosse de uma criança, me beija e assim agradece, dizendo que o presente de natal que eu lhe dei foi a vida de seu filho.
A família inteira agradece, quando vejo vindo em minha direção um garoto magro, alto, de apenas 15 anos, era o Alisson o qual me abraçou e começou a chorar dizendo que nunca mais irá esquecer daquele momento, que só lembrava quando eu tinha perguntado seu nome. As pessoas que estavam no dia anterior aplaudem novamente e agradecem.
Daquele dia em diante percebi que o trabalho de guarda- vidas é algo fascinante e muito sério, pois vidas são para serem cuidadas e nós (guarda –vidas) estamos com esta responsabilidade. As vezes centenas de pessoas estão em nossa visão as quais confiam em nosso trabalho , por isso temos o dever ou melhor a missão de estar sempre alerta, digo missão porque este trabalho são para poucos , são para os escolhidos , são os anjos da areia que Deus escolheu.
Sd .Juliana Mezzadri Zanello
Guarda –vidas.