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A série de artigos analisa a situação de diversos temas centrais para a
definição das próximas décadas, entre os quais se incluem: crescimento
populacional, erradicação da pobreza, melhoria da saúde pública,
preservação ambiental e da biodiversidade, atenção para o uso racional dos
recursos energéticos disponíveis, entre outros.
Aliando ciência e política, o dossiê sugere soluções aos problemas da
atualidade. As ações, a serem desenvolvidas durante os próximos 50 anos,
foram resumidas em 8 estratégias para a primeira metade do século XXI. São
elas:
1. controle demográfico
A compreensão das tendências demográficas em processo é fundamental, pois
é o contexto no qual as demais ações deverão ser implementadas. O quadro
atual é de desaceleração do crescimento vegetativo, envelhecimento e
urbanização da população mundial.
Provavelmente, já em 2007, a população urbana superará a rural. A projeção
indica que, em 2050, habitarão o planeta 9,1 bilhões de pessoas, variando
de 7,7 bilhões, se a atual média de 1,5 filho por mulher cair, a 11,7
bilhões, caso a atual taxa de aceleração se mantiver (hoje, a população
mundial é de 6,5 bilhões de pessoas).
Desse modo, as prioridades são o controle do crescimento populacional e a
redução da desigualdade social em diversas localidades do mundo. Para
tanto, deve-se estimular a expansão da educação básica de qualidade e a
melhoria do acesso à saúde reprodutiva e a métodos contraceptivos,
principalmente nos países mais pobres, onde, até 2050, a população pode
chegar a triplicar.
2. erradicação da pobreza
O objetivo é alcançar as metas do Projeto do Milênio da ONU, de promoção
do bem-estar da população mundial, que envolve ações para erradicar a
pobreza e a fome, difundir a educação básica para toda a população,
reduzir as taxas de mortalidade infantil e materna, combater a Aids, a
malária e outras doenças, reduzir a poluição do ar e o desmatamento, entre
outros.
Atualmente, todos os dias, 20 mil pessoas morrem por falta das
necessidades básicas e 1,1 bilhão ganham menos de US$ 1 por dia, vivendo
abaixo da linha de pobreza. Uma das estratégias seria dobrar, hoje, para
US$ 160 bilhões a quantia de assistência a países pobres (atualmente, esse
montante representa 0,5% da soma do PIB dos países desenvolvidos; em 2015,
o montante seria elevado a 0,7%). A projeção é de que, em 2015, o número
de pessoas em extrema pobreza caia pela metade e, em 2025, se os
investimentos se mantiverem, a pobreza seja erradicada.
3. preservação da biodiversidade
Em todo o mundo, foram identificadas 25 regiões que concentram um grande
número de espécies de animais e vegetais em grave risco de extinção, onde,
em média, a ação humana chegou a destruir mais de 70% da vegetação
original. Em sua maioria, as localidades se encontram nas Américas do Sul
e Central, Ásia e África.
O Brasil, por exemplo, já teve mais de um milhão de km² de florestas
costeiras. Hoje, dispomos de apenas 10% desse total, onde habita o maior
número de espécies ameaçadas de extinção. A estratégia seria investir na
preservação da biodiversidade do planeta, de modo a garantir o equilíbrio
ecológico.
4. controle do “efeito estufa”
Hoje, expelimos no ambiente três vezes mais dióxido de carbono (CO2) do
que o ambiente consegue absorver, provocando o chamado “efeito estufa”,
resultando na elevação da temperatura média global.
Como a principal causa dessa emissão é a queima desenfreada de
combustíveis fósseis, a estratégia seria realizar mudanças em nosso modo
de produção e utilização de energia, aumentando o uso de fontes renováveis
de energia – como sol, ventos, correntes de água, biomassa, energia
geotérmica, substitutos do petróleo, entre outros – em empresas,
residência e transportes.
Até 2050, essa utilização, ainda dependente de avanços tecnológicos,
reduzirá drasticamente a emissão de CO2 no ambiente, medida que deve
também se mostrar lucrativa, uma vez que as maneiras de produzir e
armazenar energia devem ficar mais baratas.
5. incentivo à pequena agricultura
Para reduzir a pobreza na África, Ásia e América, uma outra estratégia é
melhorar o acesso a tecnologias de produção – principalmente irrigação – e
a mercados para os pequenos produtores rurais, medida que teria impacto na
erradicação de focos regionais de extrema pobreza e na expansão das
economias locais.
Sistemas alternativos de irrigação, por exemplo, além de mais baratos,
podem melhorar ainda o acesso à água potável para cerca de 1,1 bilhão de
pessoas abaixo da linha de pobreza, 80% delas residentes na zona rural.
6. saúde pública
A disparidade entre a situação de saúde das populações ricas e pobres está
crescendo, e há o risco de sermos afligidos por pandemias. A estratégia
seria, além de incrementar os investimentos em saúde pública, definir
prioridades na formulação das políticas públicas na área, orientadas por
três preceitos: ações preventivas, que vão desde mutirões de vacinação a
campanhas antitabagistas, potencialização de sistemas de informação e
criação de uma infraestrutura internacional de promoção da saúde.
A projeção para 2020 é de que as 10 primeiras fontes de DALYs –
disability-adjusted life-years, índice que quantifica os anos de vida
saudáveis perdidos em decorrência de doenças ou outros danos – serão, em
ordem decrescente: doenças do coração, depressão, acidentes de carro,
derrame, enfisema, bronquite, pneumonia e outras infecções respiratórias,
tuberculose, diarréia e HIV.
Em 1990, o quadro era outro: pneumonia e demais infecções respiratórias,
diarréia, distúrbios no parto e em recém-nascidos, depressão, doenças do
coração, derrame cerebral, tuberculose, sarampo, acidentes de carro e
defeitos congênitos.
7. economia X recursos naturais
Nos próximos anos, será fundamental a promoção do equilíbrio entre
produção e utilização dos recursos naturais do planeta. A atual aceleração
da economia mundial não conseguirá ser acompanhada pelas reservas de
recursos naturais durante muito tempo, podendo causar catástrofes
ecológicas ou econômicas. As medidas devem ser orientadas por três
parâmetros: limitar o uso de recursos escassos, explorar fontes renováveis
de recursos naturais e utilizar os recursos não-renováveis numa taxa
equivalente ao desenvolvimento de recursos renováveis.
8. prioridades políticas
Durante os próximos 50 anos, será central a identificação de prioridades
políticas para reduzir problemas ambientais e humanitários. Governos,
agências internacionais e demais atores globais, quando patinam na
definição de estratégias, têm como resultado progresso lento e custoso.
OS AUTORES
Joel E. Cohen, demógrafo, professor das universidades de Columbia e
Rockefeller (EUA).
Jeffrey D. Sachs, economista, dirige o Earth Institute da universidade de
Columbia (EUA) e o Projeto do Milênio, da ONU.
Stuart L. Pimm e Clinton Jenkins, ecólogos, da universidade Duke (EUA).
Amory B. Lovins, físico, co-fundador e diretor executivo do Instituto
Rocky Mountain.
Paul Polak, fundador e presidente do International Development
Entrerprises (IDE).
Barry R. Bloom, epidemiologista, professor da universidade Harvard (EUA).
Herman E. Daly, economista, professor da universidade de Maryland (EUA).
W. Wayt Gibbs, um dos editores da Scientific American internacional. |
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