Por David Szpilman
TRAUMATISMO RAQUI-MEDULAR
O número de casos de TRM entre todos os socorros
realizados na área da Barra da Tijuca entre os
anos de 1991 e 2000 foi de 0,009%. Se considerarmos
todas as causas clínicas, traumas, afogamentos
e lesões por cnidários houve TRM confirmado
no hospital em 0,42% dos 3.562 casos atendidos.
É importante considerar a particularidade de
cada local com suas diferenças geográficas
como exemplo, as praias onde se praticam o surf de peito,
praias de águas escuras, e outras características
descritas mais adiante que podem ser regionalizadas
e mais incidente de traumatismo raqui-medular.
Como podemos observar, o número de TRM em nossa
orla não justifica que todo afogado seja tratado
com imobilização cervical, mas ressalta
a necessidade de cuidados com a coluna cervical em situações
especiais, e em locais onde sua freqüência
for maior pelas características do litoral.
Quando pensar em TRM dentro da água (ver também
TRM em exame secundário):
· Qualquer vítima se afogando em local
raso.
· Vítima poli-traumatizada dentro da água
- acidente de barco, aeroplanos e avião, prancha,
moto-aquática e outros.
· Vítima testemunhada ou com história
compatível com trauma cervical ou craniano dentro
da água.
# Mergulhos de altura na água - trampolim, cachoeira,
pier, pontes e outros
# Mergulho em águas rasas (mergulho ou cambalhotas
na beira da água)
# Surf de prancha
# Surf de peito
# Trauma de barco
# Queda em pé (desembarque de barco em água
escura)
# Esportes radicais na água
# Iatismo (trauma com o mastro)
# Brigas dentro da água
Sintomas e sinais sugestivos de TRM
Dor em qualquer região da coluna vertebral.
Traumatismo facial ou de crânio.
"Formigamento" (anestesia) ou paralisia
de qualquer parte do corpo abaixo do pescoço.
# 10% das lesões do TRM ocorrem por manipulação
incorreta das vítimas de trauma, por socorristas
ou pessoal não habilitado.
# Lembre-se que 17% dos pacientes com lesões
de coluna são encontrados na cena do trauma de
rua ou chegam ao hospital por seus próprios meios
- Não hesite em imobilizar se houver indicação.
CUIDADOS NO TRM DENTRO DA ÁGUA
1. Exame primário - ABC da vida
2. Em caso de parada respiratória - esqueça
a possibilidade de TRM e faça a ventilação
artificial hiperextendendo o pescoço e proceda
como no algoritmo - Técnica de BLS dentro da
água.
3. Em caso de vítima viva - Imobilize a cabeça/pescoço
em posição neutra com as mãos e/ou
os braços - A proteção da coluna
cervical deve ser uma das prioridades, a não
ser que outra situação esteja produzindo
risco de vida iminente (parada respiratória ou
PCR).
Existem 3 tipos de técnica para imobilização
da coluna (as fotos são cortesia do guarda-vidas
Leonardo A Manino - Córdoba - Argentina)
Técnica
No 1 - Sem Equipamento - "Técnica
GMAR"
· Com a vítima voltada com a face para
água - emborcada
· Coloque suas 2 mãos por baixo das axilas
e prossiga até que elas alcancem a face na altura
das orelhas.
· Fixe bem suas mãos na cabeça
da vítima e levante a vítima de encontro
ao seu tórax procurando manter a cabeça
e o pescoço alinhados.
· Procure posicionar a vítima de forma
que sua face fique fora da água e mantenha a
vítima contrária as ondas que possam,
vir virando se necessário a cada onda.
· Transporte á vítima arrastando
as pernas e o quadril dentro da água até
a areia.
· Ao chegar na areia, posicione a vítima
paralela a água com o seu lado direito voltado
para o mar.
· Mantendo a coluna cervical e torácica
reta coloque a vítima sentada. O guarda-vidas
deve estar por trás da vítima mantendo
a coluna cervical e torácica alinhadas.
· O guarda-vidas deve retirar a mão esquerda
da face da vítima e apoiar por trás da
cabeça/pescoço(nuca) de forma que o cotovelo
se apoie no dorso. Desloque-se lateralmente de forma
que suas costas se voltem para o mar.
· Retire então a mão direita e
apoie no queixo e tórax alinhando os dois.
· Desta forma deite então a vítima
como um só bloco na areia.
Técnica No 2 - Técnica Americana
1
· Com a vítima voltada com a face para
água - emborcada
· Se coloque lateralmente a vítima.
· Coloque o braço da vítima junto
ao corpo dela.
· Posicione um braço por cima até
a nuca apoiando o seu cotovelo no dorso da vítima.
O outro braço entra por dentro da água
de forma a imobilizar o queixo com o apoio do cotovelo
no tórax anterior.
· Mergulhe para frente com a vítima e
a gire de forma que você ficará por traz
dela e dentro da água. A vítima ficará
com sua face voltada para cima, fora da água.
· Transporte desta forma para a areia até
encontrar a prancha de imobilização
Técnica
No 3 - Técnica Americana
2
· Vítima emborcada
· Junte os braços da vítima de
forma que toque sua face imobilizando o pescoço.
· Se estiver raso vire desta forma a vítima.
· Se houver alguma profundidade, dê movimento
a vítima para frente mergulhando e virando-a
com a face para cima.
· Desta forma o guarda-vidas transportará
a vítima até a prancha de imobilização.
As duas técnicas Americanas utilizam o colar cervical e a prancha de imobilização dentro da água para retirar a vítima.
Colar Cervical
· alinhe a cabeça e pescoço do
paciente se não houver resistência ou dor
e mantenha a estabilização manual.
· O outro guarda-vidas aplica o colar ao pescoço
da vítima.
· O paciente lúcido deve ser alertado
contra o risco de movimentar-se.
· Mantenha a imobilização manual
mesmo com o colar aplicado.
Imobilizador de cabeça (Red-Block) - dispositivo
para impedir os movimentos laterais da coluna. São
dois anteparos de espuma que são fixados a prancha
longa através de uma fita fixadora (velcro).
# É importante manter sempre a coluna cervical
alinhada com a coluna torácica
#
Devemos usar o Red-block mesmo após termos
colocado o colar cervical.
# O colar cervical possui tamanhos diferentes.