Por David Szpilman

EXAME PRIMÁRIO (ABC da Vida)
O exame primário identifica e trata somente condições de risco de vida imediato.
· Parada respiratória.
· Parada Cárdio-respiratória.
· Hemorragias importantes.

O maior objetivo em realizar a ventilação artificial isolada ou a Reanimação Cárdio-Pulmonar (RCP) é prover oxigênio ao cérebro e coração até que o tratamento adequado restaure os batimentos cardíacos normais, ou que permita o tempo necessário para a chegada de uma equipe de socorro de Suporte Avançado de Vida (SAV). Quando o início da RCP for retardado, a chance de sobrevida é prejudicada, e o córtex cerebral (o tecido mais susceptível à lesão por baixa de oxigênio no sangue) sofre dano irreversível, resultando em morte ou seqüelas neurológica severa e permanente.
Como situações de trauma implicam na possibilidade de hemorragias severas que levam a PCR de forma irreversível no ambiente pré-hospitalar, o seu tratamento é fundamental no momento do exame primário (primeiro exame).
As pessoas treinadas em "Suporte básico de vida" (SBV) devem ser capazes de:
1. Reconhecer uma Parada Cárdio-Pulmonar ou Parada Respiratória
2. Desobstruir as vias aéreas
3. Verificar se existe respiração espontânea
4. Iniciar a respiração artificial de suporte com 1 ou 2 socorristas
5. Verificar se existe atividade do coração (pulso arterial ou sinais de circulação)
6. Verificar grandes sangramentos aparentes e seu tratamento
7. Iniciar a Compressão cardíaca intercalando com a ventilação artificial
8. Identificar quando iniciar a RCP
9. Identificar quando parar a RCP
10. Reconhecer a avaliação da efetividade das manobras acima

REANIMAÇÃO CÁRDIO-PULMONAR - RCP
DEFINIÇÃO DE PARADA CÁRDIO-RESPIRATÓRIA
· É a incapacidade total do coração de bombear sangue. 
· A parada do coração é sempre acompanhada pela parada imediata da respiração. 
· A parada da respiração leva a parada do coração em 1 a 5 minutos.
CAUSAS DE PARADA CÁRDIO-RESPIRATÓRIA
Dentre as diversas causas, algumas provocam a parada respiratória antes da parada cardíaca.
1. Parada Respiratória
a - Obstrução das vias aéreas superiores - É a causa mais freqüênte, podendo ocorrer por um corpo estranho ou mais frequentemente pela queda da língua sobre a faringe.
b - Lesão cerebral
c - Lesão torácica - Quando um trauma no tórax impede o movimento normal.
d - Drogas - Diversas drogas reduzem ou param o estímulo a respiração.
e - Afogamento - Neste caso pode ocorrer, obstrução das vias aéreas ou exaustão respiratória.
2. Parada Cardíaca
a - Parada cardíaca primária - arritmia ou infarto do miocárdio.
b - Choque
c - Traumatismo
d - Drogas - Podem determinar a parada do coração.
e - Parada respiratória

RECONHECIMENTO DA PCR E SEU TRATAMENTO (ABC) - EXAME PRIMÁRIO
1o Passo - AVALIAÇÃO DO LOCAL DO ATENDIMENTO 
· Avalie o local quanto a presença de situações de risco antes de se aproximar da vítima.
· A sua segurança pessoal é o mais importante.

MEDIDAS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL
· Cuide da sinalização e isolamento da área para prevenir acidentes secundários - acidentes de transito, incêndio, explosões, choque elétrico, desabamentos.
· Evite contaminar-se por agentes biológicos, substâncias tóxicas, ou radioativas presentes na superfície do corpo, sangue e secreções do paciente. Veja profilaxia de TÉTANO em FERIDAS, e profilaxia de AIDS e HEPATITE B em DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS DURANTE SOCORRO. Em caso de dúvidas procure imediatamente após o socorro o hospital para orientação adequada.
· Caso o local de socorro ofereça riscos que não possam ser neutralizados, remova a vítima para local seguro antes de iniciar a sua avaliação.
· É obrigatório o uso de luvas. Nos EUA, estatísticas mostram que 19% das vítimas de traumatismos penetrantes, com idade entre 25 e 34 anos, são portadores do vírus da AIDS. Caso não haja luvas, use pano limpo.

2o Passo - CHECAR A RESPOSTA DA VÍTIMA
· Ajoelhe-se ao lado da vítima ao nível de seus ombros.
· Estimule a vítima verbalmente e balançando levemente os ombros para avaliar o nível de consciência - Você está me ouvindo?
· Uma resposta verbal da vítima indica a ausência da necessidade de RCP - Vítima viva. 

· Caso a vítima esteja com o ventre para baixo, ela só deve ser movida se não responder a seus estímulos - vítima inconsciente - e se não houver certeza da presença de respiração.
· Cuidado com a coluna cervical em casos de trauma (cheque a resposta da vítima olhando-a nos olhos, para evitar que se vire).

3o Passo - NO CASO DE AUSÊNCIA NA RESPOSTA - ATIVE O SISTEMA SEM (LIGUE 193) E INICIE O ABC


4o Passo - DESOBSTRUA AS VIAS AÉREAS - A
· A obstrução das vias aéreas superiores é a causa mais comum da parada respiratória. 
· A queda da língua sobre a faringe é a causa mais comum de obstrução de vias aéreas superiores. Os corpos estranhos são menos comuns. 
· A desobstrução tem prioridade em pacientes que não respondem. 
COMO DESOBSTRUIR AS VIAS AÉREAS
Inclinação da Cabeça e Elevação do Queixo - hiperextensão do pescoço (figura VII)
· Esta manobra não deve ser utilizada na suspeita de trauma da coluna cervical.
Corpo estranho nas vias aéreas - como limpar
· A limpeza da boca deverá ser feita antes da ventilação apenas em casos de forte suspeita de corpo estranho. Caso em contrário ela será realizada apenas se a ventilação artificial (boca-a-boca) não for eficaz (figura VIII).
Suspeita de trauma da coluna cervical - Como desobstruir as vias aéreas
· Elevação da Mandíbula (figura IX). O socorrista se posiciona por detrás da vítima e com suas mãos segura os ângulos da mandíbula, deslocando-a para cima. 
· Esta manobra exige dois socorristas para a ventilação simultânea da vítima.
· Evite movimentos laterais - As mãos do outro guarda-vidas estabiliza a coluna cervical. 

5o Passo - VENTILAÇÃO - B
· Avalie se o paciente está respirando - Ver, Ouvir, e Sentir.
    Ausência de movimentos torácicos - Ver.
    Ausência de movimentação de ar através da boca e/ou nariz da vítima - Sentir e Ouvir.
· Tenha a certeza de desobstruir as vias aéreas para fazer este diagnóstico. 
· Se não houver movimentação do tórax e fluxo de ar pela boca - parada respiratória (apnéia). 
· Estas manobras de reconhecimento devem durar 5 segundos.
· A desobstrução das vias aéreas (A) e a avaliação da respiração (B) devem ser completadas em 10 a 15 segundos.

6o Passo - VENTILAÇÃO - BOCA - a - BOCA - Como fazer?
1o - Obstrução do Nariz: obstrua o nariz com os dedos polegar e indicador com a mesma mão que inclina a cabeça.
2o - Ventilação (soprar o Ar): Adapte a sua boca à do paciente de forma que não haja vazamentos, e sopre o ar pela boca da vítima.
· A cada ventilação o tórax deve se elevar, fato que confirma um boca-a-boca eficaz.
· Após a primeira ventilação você deve virar a sua cabeça lateralmente observando o tórax e aguardar os pulmões se esvaziarem para fazer a segunda respiração artificial - total de 2 ventilações.
· Mantenha as vias aéreas desobstruídas na inspiração e expiração.
· O volume de ar insuflado deve ser o suficiente para elevar o tórax. No Lactente geralmente o ar contido na boca é o volume suficiente para ventilar.
· Se o tórax não se elevar após a primeira ventilação - repita a hiperextensão do pescoço e tente novamente o boca-a-boca - Se não resolver - pense em obstrução por corpo estranho e execute a manobra de Heimlich (ver adiante).
· As próteses dentárias só devem ser retiradas se estiverem fora do lugar.
· O socorrista sela sua boca sobre a boca da vítima e efetua duas ventilações completas com intervalo de 3 a 5 segundos entre cada uma.
· O tempo de insuflação de cada ventilação deve ser de 1 a 2 segundos. Ventilações mais rápidas causam distensão gástrica e vômitos freqüentes. Em lactentes, inclua também o nariz na boca do socorrista (Boca-a-Boca/Nariz).
· O importante durante a ventilação boca-a-boca é a observação da elevação e abaixamento do tórax, o que significa o bom resultado da sua manobra.


7o Passo - CIRCULAÇÃO - C
DETERMINAR O PULSO ARTERIAL NA ARTÉRIA CARÓTIDA
· Ausência do pulso arterial da carótida - parada cardíaca. 
· Em lactentes a verificação é feita no pulso braquial.
· A manobra de verificação do pulso deve levar de 5 a 10 segundos.
· Para leigos, a verificação do funcionamento do coração deverá ser feita através da checagem de sinais de circulação como reação a ventilação ou a presença de movimentos.

8o Passo - CIRCULAÇÃO - COMPRESSÃO CARDÍACA EXTERNA
· Aplicação de pressão sobre o tórax da vítima fazendo o sangue circular por todo o corpo. 
· Só deve ser iniciada se não houver pulso arterial ou sinais de circulação - Parada Cardíaca. 
10 - Tenha certeza de que não há pulso arterial ou sinais de circulação - parada cardíaca.
20 - Localize o ponto ideal utilizando os dedos indicador e médio através do abdome, de baixo para cima até localizar o encontro das duas últimas costelas. Neste ponto você encontrará um osso pontiagudo chamado apêndice xifóide. O ponto ideal será dois dedos acima.
   

30 - Coloque uma mão sobre o dorso da outra, com os dedos entrelaçados em flexão dorsal, e com os punhos em extensão palmar.
40 - Com os cotovelos estendidos em angulo reto, debruçado sobre a vítima e usando o seu próprio peso, faça pressão sobre o osso esterno de forma perpendicular sem apoiar-se sobre as costelas.
50 - Na compressão você deve fazer uma depressão aproximada de 3 a 5 cm no adulto. Em crianças a região de compressão cardíaca é a mesma do adulto, porém utiliza-se menor força, e somente uma mão. No lactente coloque o dedo indicador na linha imaginária entre os dois mamilos e suspenda o dedo indicador mantendo os dedos anelar e médio- dois dedos - realizando a compressão de 1 a 3 cm.
60 - Faça a compressão cardíaca sem retirar a mão do local marcado permitindo ao tórax retornar ao normal. O tempo de compressão e descompressão devem ser o mesmo. A velocidade de compressões é de 100 vezes por minuto para adultos e crianças. Em lactentes devemos fazer 120 compressões cardíaca por minuto.


QUANDO INICIAR AS MANOBRAS?
Confirmada a PCR, a RCP deve ser iniciada em todos os pacientes, exceto em 3 situações:
        Rigor mortis (enrigecimento cadavérico).
        Livores (mancha violácea em dorso).
        Decomposição corporal (falta parte do corpo, putrefação ou outros). 
QUANDO PARAR AS MANOBRAS?
Uma vez iniciada a RCP só pare quando:
        Houver resposta e forem restabelecidas as funções respiratória e os batimentos cardíaco.
        Houver exaustão do socorrista.
        A chegada de uma equipe médica (Suporte Avançado de Vida). 
· Existem casos de sucesso na reanimação em afogamento após 2 horas de RCP.

COMPLICAÇÕES DA RCP
· Siga as técnicas correta de RCP para minimizar as complicações. 
· Mesmo seguindo as técnicas corretas podem ocorrer: fraturas de costelas e esterno, pneumotórax (ar em tórax), hemotórax (sangue em tórax), trauma pulmonar, lacerações do fígado e/ou baço, e embolia gordurosa.

PROGNÓSTICO APÓS RCP
· O melhor resultado da RCP ocorre quando o Suporte Básico de Vida é iniciado em até 4 minutos, seguido pelo Suporte Avançado de Vida em até 8 minutos.
· As melhores respostas a RCP ocorrem em: Infarto agudo do miocárdio, casos de fibrilação ventricular, hipotermia, "overdose", obstrução de vias aéreas, parada respiratória primária e afogamento.
· Existem casos de afogamento atendidos por nosso grupo, que foram reanimados com mais de 15 minutos de submersão, sem seqüelas, o que justifica todo empenho realizado nestes casos.

RISCO DE TRANSMISSÃO DE DOENÇAS DURANTE A RCP
· A maioria das RCP feita pelos guarda-vidas é realizada em vítimas não conhecidas.
· Em qualquer situação de emergência existe a exposição a alguns líquidos corpóreos com risco de transmissão de doenças para o guarda-vidas e para a vítima. 
· Embora algumas doenças possam ser potencialmente transmissíveis entre duas pessoas que se expõem, a preocupação maior é com as doenças mais graves como a hepatite B e a AIDS. Ambas raramente são transmissíveis durante a RCP, e os casos relatados até hoje foram decorrentes da contaminação por sangue ou pela penetração inadvertida da pele por instrumentos cirúrgicos. 
· A transmissão de Hepatite B e AIDS jamais foi documentada até hoje (1994) em casos de ventilação Boca-a-Boca. 
· Recomenda-se a vacinação para hepatite tipo B em todos os socorristas.

SÓ INICIE O EXAME MAIS DETALHADO DA VÍTIMA

- EXAME SECUNDÁRIO - 

QUANDO A VÍTIMA ESTIVER VIVA